segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As diversas formas de dominação humana


         Desde o fim do Absolutismo, era evidente que não seria fácil tirar o poder das mãos daqueles que sempre governaram. Até os dias de hoje, fica claro que as elites, seja através de instituições ou mesmo do Estado, dominam as massas e conduzem os rumos da sociedade.
         A democracia nos moldes que se apresenta nada mais é, se não, um sistema que através da participação popular mantém o povo manso, pois esta participação não é efetiva e de fato quem decide não é o povo.
         Muitas são as medidas que os governos criam para manter o controle sobre estas massas, são mecanismos de dominação, como por exemplo, benefícios cedidos pelo Estado que são vistos como auxílios e que se tratam, entretanto, de uma prova de que o governo não cuida de todos os membros da sociedade e que os salários que recebem não é o suficiente para o seu sustento.
         Essa situação de impotência frente ao Estado, mesmo com a chegada da República, foi estudada por vários pensadores. Assim, termos como ‘sociedade disciplinar’ e ‘sociedade de controle’, usados por Foucault, e ‘Império’ − termo usado por Michael Hardt em seu livro de mesmo título, que conceitua Império como Estados-nação dominantes − fomentam a ideia de dominação das elites.


Foucault – Sociedade Disciplinar & Sociedade do Controle.

         De acordo com Michel Foucault, para que as sociedades contemporâneas existissem foi preciso um processo. O autor defende a premissa de que todas as Instituições, como a Família, a Religião, a Escola, a Moral, entre outras, somadas ao Estado, são responsáveis por criar a individualidade do ser humano, e de manter o poder sobre ele, sendo então consideradas micropoderes. Esse processo se deu a partir de um hábito impresso aos homens e que foi naturalizado ao decorrer dos tempos, os disciplinando, de modo a ocorrer uma servidão voluntária norteada pelo costume, pela pratica, ou seja, por um comportamento reproduzido e não questionado. As Instituições deram origem à Sociedade Disciplinar, na qual os indivíduos são disciplinados no seu tempo e em seu espaço - que já fora reduzido pela modernidade - e também no saber que detinham ou poderiam possuir, sendo vigiados e agindo com um comportamento padronizado continuamente. Junto a esse processo, o coletivo passou a se individualizar, moldando a potencialização do ser. Acontece que o poder disciplinar torna os indivíduos – já autônomos do coletivo – mansos, prescrevendo ainda mais a dominação, e, portanto, o aspecto normativo sobre o natural.
         Um bom exemplo para se entender os mecanismos da Sociedade Disciplinar se encontra em um modelo de presídio proposto por Jeremy Bentham – o Panóptico. Com uma forma circular e torre de vigia central, esse presídio ofereceria uma vigilância perpétua à cada indivíduo. O acuamento, o medo dessa vigilância constante e possíveis repreensões, traria ao indivíduo um comportamento dito adequado.

         A Sociedade Disciplinar surge com a Indústria, e então o homem disciplinar, além de se constituir como manso, também se mostra produtor e consumidor. Dominado. Os micropoderes presentes em nossa organização social, que primeiramente disciplinavam os homens, passaram a controla-los como um resultado do processo civilizatório e racionalizador. A Sociedade Disciplinar torna-se a Sociedade do Controle, e a inserção da Biopolítica é responsável pela produção de uma subjetividade que a mantém, afinada com uma lógica capitalista e, ao mesmo modo, imersa na indústria cultural. O Estado que prolifera a Biopolitica é responsável pela produção da vida, o principal anseio em comum entre todos os indivíduos. Ele usa de políticas que produzem a longevidade. Nesse Estado Republicano Democrático, ou também Sociedade do Controle, que vigia e pune, não há resistência. A população passa a ser parceira da governabilidade e isso também acontece em todas as esferas dos micropoderes, em empresas e no ramo dos negócios, por exemplo, onde os que estão no poder defendem que não existe uma dominação, e sim uma parceria entre todos.
         Contribuindo com o controle social e com o vazio de resistência a isso, a cidadania dos homens passa a ser uma mediação com o Estado. Por meio da Biopolitica, o Estado que assegura a VIDA a todos é o mesmo que os fazem cumprir suas regras, interferindo quando alguma é burlada. A mesma população controlada, que sofre essa interferência, torna-se justiceira naturalmente. O cotidiano dos homens é a forma do controle em si e, ao mesmo tempo, é no cotidiano que se concretiza a “parceria” entre o Governo e o Governado.
         A Sociedade do Controle é o Estado mínimo, ou seja, aquele que cumpre minimamente com seu proposito, sendo possível perceber esse fato com a existência das ONGS, instituições civis regulamentadas que cumprem o que o Estado deveria fazer. A maior estratégia de dominação esta na democracia representativa. O papel da Sociedade do Controle é fazer com que a população não tenha interesse pela participação politica, pois esses espaços de participação freariam o controle. Por exemplo, com a divisão do trabalho nas empresas e indústrias, há o esvaziamento do movimento sindical. Os homens não se reúnem e não são ativos politicamente. Não participam da construção do seu âmbito de trabalho e muito menos na construção de sua sociedade. Nas grandes metrópoles contemporâneas, e, por conseguinte, no mundo do trabalho, não há associação e a politica se esvai na mesma velocidade que as alternativas de potencialização do controle por meio da técnica veementemente.
         Sem a participação política, o Estado apresenta-se como racional e burocrático, governado por uma elite que usa dessa atitude blasé da população para se beneficiar. Com a modernidade, e a lógica do efêmero, a população foi obrigada a se enquadrar em uma dinâmica que criou uma nova relação de sociabilidade, que potencializava ainda mais o controle – o contato, relação presencial, perdeu o prestígio, sendo trocada por uma relação virtual, mediada pelas tecnologias. Levando isso em conta, as relações fragmentadas e descartáveis que esse mundo controlador e dominante nos proporciona são iniciadas no controle absoluto e compressão espaço-temporal da politica.


Marx - Sistema capitalista e alienação humana

         Marx encontra na sociedade industrial a pior forma de exploração e dominação humana. Passando da chamada troca simples para o comércio – então, com o inicio do acúmulo de capital – uma nova forma de relação interpessoal surgiu. Os trabalhadores começaram a se relacionar com os artesãos – burgueses da época – vendendo sua força de trabalho para empregá-las nas fábricas. Para melhor aproveitamento do tempo, instituiu-se uma divisão do trabalho, em que cada homem ficava responsável por uma parte específica da produção, sem jamais conhecer o todo do processo.
         Com essa configuração das fábricas, os trabalhadores não se reconheciam como donos do produto final que produziam. Eles sequer tinham noção de sua real força de trabalho, chegando a vende-la por um preço muito abaixo do que o justo. Em poucas horas de trabalho o homem já conseguia produzir o equivalente ao valor de seu salário, passando o resto do dia produzindo em benefício do burguês. Para Marx, essa alienação criada pelo sistema capitalista, que propiciava uma exploração, era um mecanismo de dominação.
         Marx acreditava que, um dia, o capitalismo iria acabar. Falando sobre um operariado que tinha uma memória recente de uma vida sem exploração, em que era possível uma sobrevivência sem o lucro, ele apostava no surgimento de um sentimento de revolta, que desenvolveria uma consciência de classe em todos os trabalhadores. Para ele, essa era a forma mais crível da quebra do sistema: uma revolução proletária.
         Mas, conforme essas revoltas proletárias aconteciam, Marx percebeu que havia alguma força que as impedia de suceder em seu propósito: o Estado usava sua força e poder para fazer as revoluções fracassarem, como forma de garantir que a propriedade privada permanecesse nas mãos dos poderosos. E com esse mecanismo de controle que o Estado exerce, Marx passa a desacreditar em uma revolta deste tipo, e passa a crer que o sistema Capitalista tenderá a sua auto-destruição, ou seja, seu mecanismo e matemática injusto levarão a uma revolta por conta da miséria.
         No entanto, essa visão de Marx também não aconteceu. Os trabalhadores continuavam vivendo na miséria e tendo sua força de trabalho explorada, mas eles não tinham consciência da injustiça desse mecanismo, pois sua docilidade era garantida por outro mecanismo de dominação da sociedade: a Indústria Cultural.
         Conforme os estudiosos de Frankfurt irão aprofundar, essa Indústria Cultural ocupava, e ocupa ainda nos dias de hoje, o tempo de ócio do ser humano, de modo que ao invés de pensar sobre a realidade e seus “problemas”, a classe trabalhadora é bombardeada com ilusões que a mantém dócil, facilitando seu controle para que não seja criada uma possibilidade de revolta.
         Marx acredita que o Capitalismo é necessário para produzir riquezas que sejam divididas igualmente entre os indivíduos, e se o sistema ainda não ruiu é porque, mais uma vez o Estado intervém com dinheiro toda vez que empresas ameaçam falir. Mas esse método logo não mais acontecerá, pois o custo de manutenção das cidades só aumenta, e o estado não tem mais o dinheiro necessário para manter as empresas e o capitalismo.

A Indústria Cultural segundo a Escola de Frankfurt

         Para os pensadores da Escola de Frankfurt, outra forma de controle presente em nossa sociedade, se concentra no fenômeno da Indústria Cultural. Em texto publicado em 1947 “A dialética do Iluminismo”, Adorno e Horkheimer, definiram a Indústria Cultural, como se tratando de um sistema econômico e político no qual os meios de comunicação, produções artísticas – filmes, livros, obras de arte – têm função de mercadoria e são também estratégia de controle social, perdendo seu sentido original, de serem uma forma de comunicação com os homens capazes de gerar reflexão.
         Sobre isso Adorno tem uma visão extremamente fatalista, para ele a partir do momento no qual a produção cultural passa a fazer parte de um sistema e as fronteiras entre “arte” e entretenimento se diluem isso ocasiona a alienação e o afastamento do indivíduo no que diz respeito ao mundo social que o cerca.
         Isso acontece, porque os meios de comunicação de massa são de propriedade de um pequeno grupo, o qual possuiu interesses individuais e mercantis. Para continuar lucrando com seus produtos, essas empresas articulam seus interesses com os interesses do governo e ao invés de contribuírem para construir cidadãos críticos, formatam seu conteúdo para auxiliar no controle e na dominação de seu público.
         Nesse sentido na posse do poder econômico, a tecnologia e a ciência, seriam um meio de impedir as pessoas de tomarem consciência de suas condições de desigualdade. Um trabalhador regular ao chegar em sua casa, não encontrará nas programações das emissoras um retrato fiel de sua realidade de vida, mas sim algo que o isole por alguns instantes de sua realidade, essa força do entretenimento gera certa “cegueira” e consumidores desse produto cada vez mais passivos.
         Além disso, essa Indústria da distração se apresenta como uma forma de dominação por ocupar todo tempo livre dos indivíduos com o lazer, ao invés de se dedicar à reflexão. O público, afastado da realidade pela redução desta pelos caracteres dos impressos e nos discursos simplistas dos telejornais, aceita sua própria dominação, já que não há como desenvolver um pensamento crítico, muito menos, uma consciência de classe.
         Por fim, o pensamento cartesiano, base do Capitalismo, também é condenado pela Escola de Frankfurt. Na base da Teoria Tradicional, de Descartes, busca-se causa e efeito em todas as explicações, ademais só é considerado verdadeiro aquilo que é provado racional ou empiricamente. Essa teoria matemática, a maneira de pensar e a falta de razão crítica contribuem na alienação da população, ao delimitar sua reflexão e, pela consequente perda de consciência.



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