segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Multidão contra o Império e a Comunidade puquiana contra a Fundasp

“A ação da multidão se torna política, sobretudo, quando começa a fazer face diretamente, e com a consciência adequada, às operações repressivas centrais do Império”, afirmam os filósofos políticos Michael Hardt e Antonio Negri, em trecho de sua obra “Império”, onde desenvolvem a ideia da transformação do Imperialismo e de que o Império permanece por meio de uma nova ordem política da globalização, moldando um Império emergente em nossa sociedade. 

É possível deparar-se com diversas organizações nas quais existe um Império, em escalas menores e particulares, tal qual toda nossa civilização. Nesse mesmo contexto, as decisões do “Império” entram em conflito com a posição e vontade da Multidão, como já ocorreu diversas vezes durante nossa história. Recentemente, a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) foi palco - e está sendo - da guerra pela Democracia em uma Era que já não é a do Império, tornando-se, assim, um bom exemplo desse tema.

Noite do dia 13 de novembro. A PUC-SP, que havia passado por um processo eleitoral durante o mês de agosto para a nomeação de sua reitoria, referente ao quadriênio 2012-2016, se depara com a divulgação da decisão do Cardeal Dom Odilo Sherer e da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Universidade, a partir de uma lista tríplice, nomeando a professora Anna Marques Cintra como nova reitora.

Desde 1980, na época da ditadura civil militar, a PUC-SP conta com eleições para sua reitoria. Primeiramente, professores, estudantes e funcionários votam, por meio de cédulas, no candidato a escolha, e dessa votação resulta uma lista tríplice, com os três candidatos mais votados. Essa lista é direcionada ao Cardeal, que tem a palavra final do candidato a ocupar o cargo na reitoria na próxima gestão.

Em 32 anos de eleição para reitor, o Cardeal sempre escolheu o candidato que recebeu a maior quantidade de votos, mantendo, assim, a PUC-SP como uma das poucas universidades com uma tradição legítima e democrática, respaldada pelo respeito aos três setores: alunos, professores e funcionários. No entanto, neste ano de 2012, um golpe à democracia universitária aconteceu. O Cardeal escolheu como nova reitora a candidata menos votada pela comunidade, entre os três reitoráveis, indo contra a vontade da maioria.

O ato do Cardeal pode estar de acordo legalmente com o Estatuto da PUC-SP, uma vez que ele tem o poder de escolher arbitrariamente entre os candidatos da lista tríplice, mas não é uma ação legítima e, por isso, não é reconhecida. A comunidade puquiana participa do processo eleitoral de forma a ser consultada e não de forma a deliberar quem será empossado, porém, a partir do momento em que se cria uma tradição moral de respeitar a vontade da maioria e dos setores dentro da universidade, cria-se um histórico e patrimônio moral, que deve ser defendido - e o é, por meio de seu Estatuto.

Dentro de uma Universidade, que foi marco na luta pela democracía do país, esse aro soou como um golpe que não irá ceder ou terminar tão logo, e que envolve questões administrativas, financeiras e, principalmente, acadêmicas extremamente delicadas, dentro de uma das Universidades mais importantes, respeitadas e conhecidas nacionalmente. Conflitos intensos ocorreram entre a “multidão” Puquiana e a Imperial Igreja Católica, respaldada pela Fundasp, construindo um cenário de guerra pela Democracia.


“A militância atual é uma atividade positiva, construtiva e inovadora (...) Militantes resistem criativamente ao comando imperial. Em outras palavras, a resistência está imediatamente ligada ao investimento constitutivo no reino biopolítico e aparatos cooperativos de produção e comunidade”.

“Império” – Militante: Michael Hardt e Antonio Negri


Os três setores da PUC-SP, atuando como Multidão e resistindo ao golpe a sua Democracia promovido pelo Império, militou desde o primeiro dia para que o espírito de luta e resistência não diminuísse, deliberando Greve Geral. Para isso, como foi posto no livro “Império”, a Multidão resiste criativamente aos comandos imperiais. 


 

Foi por meio da criatividade da “multidão puquiana” que foi possível rebater as ações da Fundasp, que ignorou as deliberações do Consun (Conselho Universitário), sendo esse a maior instância deliberativa da Universidade; forçou a nomeação e posse da Anna Cintra, alegando sua falsa legitimidade e legalidade; entrou com uma ação de citação para os Centros Acadêmicos que ocuparam a reitoria na noite do golpe; que entrou com outro processo na Justiça sobre a APROPUC (Associação dos Professores) e AFAPUC (Associação dos Funcionários) alegando greve abusiva, sendo esse último negado pela própria Justiça, e mesmo assim, o “Império Fundação São Paulo”, manteve sua posição autoritária.

Durante todo o período de luta pela Democracia, como dito, a criatividade foi o essencial para a “multidão puquiana” resistir: Foi por meio das aulas públicas, das artes visuais, dos textos escritos, das falas feitas, dos atos públicos, das divulgações nos meios de comunicação e mídias sociais, e de toda a criatividade que circundou o processo, que fez com que esse durasse e resistisse às investidas truculentas da Fundasp, transformando os estudantes, professores e funcionários responsáveis pelas ações políticas do movimento.

“Passo agora a tratar da terceira forma de governo, completamente absoluta, que chamamos de democracia” – Baruch Spinoza

♠ SOBERANIA E DEMOCRACIA.

“A democracia pode ser encarada como o governo de muitos ou de todos, mas apenas na medida em que estão unificados como ‘o povo’”. Multidão – Guerra e democracia na era do Império, Michael Hardt e Antonio Negri.

Em sua obra “Multidão”, posterior a “Império”, os filósofos reafirmam a relação democrática entre o soberano e seu povo, e através disso podemos traçar um paralelo com a crise institucional da PUC-SP. De acordo com o livro, a necessidade do soberano é a verdade fundamental expressa na analogia tradicional entre o corpo social e o corpo humano. Em nenhum momento afirmou-se que a Universidade não precisaria de um grupo gestor, mas que esse estivesse unificado com a vontade da comunidade, que fossem aqueles com os quais a comunidade acadêmica se contemplasse e escolhesse. 


O filósofo e teórico político Thomas Hobbes ilustrou essa relação muito bem na folha de rosto da edição original de sua obra, “Leviatã”, desenhada por ele próprio. A ilustração mostra o corpo do rei, que pode ser comparado a reitoria da Universidade, mas abaixo da cabeça desse rei está um corpo formado por centenas de corpos minúsculos dos cidadãos, que representaria a comunidade puquiana. Portanto, se não há uma unidade orgânica entre o povo e aquele que seria o soberano, essa relação e organização política se prejudica. Qualquer soberania exige o consentimento dos governados, e isso não ocorre na PUC-SP, que declarou greve geral por tempo indeterminado, já que não reconhece sua reitoria como legítima e tem direito à isso.

“Porque na multidão, nunca existe qualquer obrigação em princípio em relação ao poder. Pelo contrário, na multidão o direito de desobediência e o direito à diferença são fundamentais. A Constituição da multidão baseia-se na constante possibilidade legítima de desobediência.”, ‘Multidão’ – Michael Hardt e Antonio Negri.


Apesar disso, a Multidão puquiana jamais teria conseguido tanta vizualisação e respostas se ela houvesse se fechado em si mesma. Atraindo o foco para si, ela conseguiu ser discutida na Esfera Pública, gerando debates que fomentaram a Greve e seus ideais. Para que isso acontecesse, toda a comunidade fez um trabalho apoiado na Internet, que mostrou-se, nesse momento, uma importante ferramenta política.

Toda comunicação é uma forma de ação, e, pensando-se no alcance que a internet propiciona, ela foi fundamental para manter a força grevista. Seguindo as ideias de Thompson, que afirma que a internet permite que todas as pessoas saiam de seu papel de mero consumidor de informação, deixando-as tornarem-se ativas, opinarem e discutirem, essa ferramenta elevou a discussão que se iniciou na PUC a um nível nacional. Discutia-se, então, não somente um caso em particular, mas até mesmo conceitos como Democracia, a influência religiosa e sua força atualmente, etc. Cada receptor, reagindo de maneira singular ao que era veiculado, gerava um novo debate, apoiando-se na questão central – ou seja, no movimento grevista da PUC-SP – fomentando uma discussão política que, na sociedade atual, é bastante apagada.

Como em qualquer outra notícia, a posição dos veículos em relação a legitimidade da greve da universidade foi divergente. Nos noticiários televisivos, poucas foram as emissoras que cobriram o episódio, talvez porque o tema “greve” já tenha sido bastante debatido durante a greve das universidades federais, no início do ano. A cobertura mais completa, e que continua a ser atualizada a cada passo tomado pelo conselho de estudantes e professores, é aquela que tem sido feita pelos sites.
O uso da imagem é um recurso muito explorado na mídia contemporânea, a geração que cresceu junto à televisão prioriza os fatos que possam ser ilustrados, e os portais utilizaram (e muito) este recurso visual. Apesar da imagem contribuir para o mais fácil entendimento, quando esta toma o espaço do texto escrito e por si só transmite uma mensagem, há um empobrecimento do contexto geral e implicações que geraram ou foram geradas pelo simples momento em que a imagem foi registrada.

A cobertura dos portais eletrônicos foi feita com textos explicativos e que geraram debates, por muitas vezes positivos, em suas páginas. Entretanto, os álbuns criados com dezenas de fotos chamaram mais atenção do que os textos em si, e é possível perceber que muitos daqueles que opinavam nos comentários abaixo do texto sequer leram a matéria. Este empobrecimento do compreender é uma tese defendida por Giovanni Sartori, a qual discutimos no texto anterior deste blog, em sua obra “Homo videns – televisão e pós-pensamento”, no capítulo Primazia da Imagem. Ilustrações podem ser descontextualizadas, este é um dos grandes problemas no ditado popular “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Uma foto foi muito criticada até mesmo entre os estudantes que não estavam presentes na noite do dia 14 de novembro, quando a comunidade tomou conhecimento do golpe. A foto mostrava cadeiras das salas de aula da universidade próximas ao fogo, e a impressão que se tinha era de que os estudantes estavam destruindo o patrimônio da universidade. No entanto, tomamos conhecimento de que nada daquilo havia acontecido, as cadeiras foram retiradas das salas para impedir as aulas e o fogo se tratava de uma churrasqueira. O golpe de perspectiva gerou um grande desconforto entre os membros da comunidade, pois a greve, desde seu inicio até os dias de hoje tem defendido uma bandeira pacifista e é assim que tem conseguido apoio de grandes nomes da academia que fortalecem a causa.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

As facetas da mídia


Quando falamos sobre a manipulação da mídia sobre os indivíduos e seus comportamentos performativos, existem diversos fatores que precisam ser considerados. A mídia é o meio por onde a informação passa. Primeiramente, a comunicação está intimamente relacionada ao contexto social e histórico da sociedade, sendo um meio para a circulação de informação e conteúdo que levam em conta aspectos centrais da vida social. Os meios de comunicação são responsáveis, irredutivelmente, por uma produção simbólica, pois produzem teias de significação para os indivíduos e para si mesmos. A partir do momento que a mídia exerce uma força simbólica, elabora indivíduos que produzem e recebem informações, transmitindo-as entre si. O meio técnico pelo qual essa transmissão é feita é responsável pela fixação da força simbólica da comunicação e, por conseguinte, os meios técnicos e as informações ou conteúdo simbólico neles armazenados, e o grau de reprodução, são fontes para o exercício de diferentes formas de poder. É a partir desse pressuposto que há uma teoria social da mídia, já que toda interação social será simbólica.

A Comunicação é uma forma de ação e é nessa ação que o sociólogo Jonh B. Thompson baseia sua teoria social substantiva da ação comunicacional relacionada com os tipos de poder, recursos e instituições, acontecendo por meio da Comunicação de Massa. O conceito de Comunicação de Massa é a produção institucionalizada e difusão generalizada dos bens simbólicos através da fixação e transmissão de informação em larga escala, caracterizada pela mercantilização dessas formas simbólicas e pela dissociação estrutural entre a produção das formas simbólicas e de sua recepção. A difusão da Comunicação de Massa baseia-se na valorização econômica e exploração comercial das inovações técnicas. Com a mercantilização há uma extensão, uma reorganização do espaço/tempo, aumentando o controle e sua capacidade de produção.

Thompson colabora para o debate sobre a manipulação da mídia, pontuando aspectos do processo comunicativo. Retomando, para entender as ideias de Thompson, devemos reforçar o entendimento de que todo e qualquer processo de comunicação é simbólico. Em segundo lugar e em direta ligação com o primeiro ponto, devemos compreender que o receptor da mensagem comunicativa nunca é passivo. Cada signo ganha significado dependendo de quem é o seu receptor, cada individuo ou grupo poderá interpretar mesmo sinais de forma distinta de acordo com a sua percepção de mundo. Nesse sentido não é apenas o emissor que se coloca dotado de intencionalidade, o receptor partilha dessa mesma capacidade e a adotará de acordo com as suas experiências. O receptor, então, é o protagonista do processo comunicativo, apropriando-se da ideia da informação e a seguindo, sendo dotado de intencionalidade.

Entretanto o desenvolvimento da mídia parece ter modificado esse processo. Sendo esse tipo de comunicação comumente fixada em um substrato material – palavras escritas no papel ou compartilhadas em um website entre outras possibilidades – torna-se mais comum focalizar o conteúdo simbólico das mensagens midiáticas, do que transporta-las para o plano social a fim de refletir sobre quais causas as produzem e as fazem circular. Se adotarmos parte desse pressuposto, a mídia não se designa como uma manipuladora das ideias sociais, mas sim como uma fonte de convencimento dessas ideias, utilizando-se do mecanismo mais comum a todos os sujeitos, ou seja, a linguagem. Por sua vez colaborando efetivamente para a formação da opinião publica, ou até mesmo de coisas de outra ossada, como a moda, o consumo, os vocábulos.

Porém cada individuo se situa de maneira diferente dentro desse sistema comunicativo, com diferentes inclinações e possibilidades de interação. Para explicar isso o autor divide essas potencialidades do poder em quatro classes, sendo essas :
  • O poder político, que é consiste no poder do estado, responsável por comunicar as leis e a justiça.
  • O poder econômico, o qual dita as leis do mercado e possibilita a existência das discrepâncias sociais em torno das propriedades privadas.
  • O poder coercitivo, o qual comunica e convence pelo uso da força.
  • E o poder simbólico, representado pelo poder da mídia. Esse poder perpassa por todos os outros, pois é ele que efetiva a força dos demais, levando em consideração que toda comunicação é simbólica.


Para produzir formas simbólicas e transmiti-las os indivíduos adotam meios técnicos. Os atributos dos meios técnicos são: fixação e armazenamento; reprodução, o que permite a mercantilização da produção simbólica, como acontece no caso da Indústria Cultural; e por fim o distanciamento do espaço – temporal ou afastamento da realidade atual, o qual não guarda em si o poder da manipulação, mas sim da alienação da realidade presente.

Configura-se, assim, uma sociedade onde há a manipulação da informação e não do receptor, nesse ponto de vista. A recepção condiciona o sentido das informações e permite o deslocamento dos signos e de seus significados. Harry Pross, responsável por inúmeros estudos e conceitos fundamentais da Teoria da Mídia, elabora que essa teoria é dotada da cumulatividade e contágio. Pross define a mídia e a comunicação em primária, secundária e terciária. A comunicação primária, pura, só precisa se dois indivíduos, dois corpos. O tempo espaço é o aqui e o agora. Já a secundária, não existe sozinha, por isso a cumulatividade. Essa comunicação seria aquela que agrega-se aos corpos para plantar e adicionar informações, do interior de um objeto para o exterior, por exemplo. A comunicação terciária, acumulada pelas duas primeiras, caracteriza-se com a inserção da eletricidade, ou seja, a informação codificada por um pulso elétrico, gerando um código para outro receptor descodificar.

Para Bourdieu, a manipulação da mídia está intimamente ligada com uma questão estrutural do campo do jornalismo. Definindo campo como uma somatória de pessoas, regras, discursos, pressupostos de uma determinada área, ele deixa bem claro que um único campo nunca poderá ser autônomo. Para Bourdieu, todo campo, principalmente o do jornalismo, recebe influências externas, forças de outras áreas do conhecimento, que, por vezes, acabam determinando algumas ações, manipulando-as. Isso é natural, apesar de perigoso, uma vez que sempre haverá uma força dominante e uma dominada.

Isso é muito claro no jornalismo. Principalmente com crescimento da televisão, o campo jornalístico passou a ser dominado pela lógica comercial, e consequentemente da concorrência, que impõe limitações em seu universo. A economia e a política exercem muita força sobre a produção jornalística, chegando a dominá-la, uma vez que esse campo depende muito da audiência, demanda do mercado, subvenções do Estado, etc. Para Bourdieu, essas forças invisíveis e anônimas criam uma zona de secção no campo do jornalismo, que acaba sendo condicionado.

Com isso, há inúmeras chances, por exemplo, de um interesse público rivalizar com um interesse privado burguês, que visa o lucro ou benefício imediato. O jornal deveria estar comprometido com a verdade, noticiando fatos inéditos, denunciando. Entretanto, por ele ser controlado por uma empresa, ou seja, por ele ser dominado pelo campo econômico, existem limitações no que se pode ou não veicular. Diante de uma situação em que o dono da publicação é obrigado a escolher publicar uma matéria – portanto, de interesse público – ou uma propaganda – que visa seu interesse econômico – por vezes ele escolherá a propaganda, visto que precisa lucrar e ter meios de manter seu jornal aberto.

Pensando particularmente na televisão, o caso é ainda mais complicado. Além de ser moldada pelo campo econômico, nela há a possibilidade de se difundir informações de modo muito rápido e dinâmico, o que pode despolitizar o conteúdo ali exibido, fornecendo informações-ônibus, homogeneizadas. Para não chocar um telespectador e atingir um público extenso, exibem-se matérias que não levantam problemas, que são banalizadas e conformistas.

As notícias sensacionalistas que caracterizam o jornalismo atual, principalmente o televisivo, é uma amostra da banalização da realidade dita anteriormente, em que se relega a segundo plano os assuntos relevantes e se dá prioridade a variedades e notícias esportivas. Elas não chocam os telespectadores, pois tratam de assuntos fúteis e triviais, como a fofoca. Além da abordagem e do enquadramento dado as matérias, sejam relevantes ou não, que seguem um determinado roteiro que suscita pulsões sentimentais do público, de forma a sensibilizá-lo. Isso convém, pois rende audiência e, portanto, vende.

A concorrência entre as emissoras também traz a emergência pela informação exclusiva, que dispensa a análise, e busca a crítica simplista. Essa última não será radical a ponto de mudar a maneira de ver e pensar do público, ao invés disso, despolitiza-a.

Outro contribuinte da estrutura invisível que defini o campo jornalístico é o próprio profissional da área, o jornalista. No papel de apresentador, âncora, comentarista ou afins, ele se tornou um porta-voz do que se deve pensar, condicionando a interpretação dos telespectadores a partir de sua própria opinião que é ditada pelos valores do mercado.

Giovanni Sartori, autor do texto Homo Videns centraliza seu estudo a respeito da “manipulação” da mídia nos receptores. O autor debruça seus estudos justamente nos efeitos que os novos meios e novas mídias interferem e, segundo o autor, modificam o cotidiano do homem.

Analisemos, primeiramente, a televisão. Segundo Sartori a televisão modificou a própria natureza da comunicação deslocando a comunicação do contexto das palavras para o contexto das imagens causando um empobrecimento do pensar.

O autor vai à contramão do que muitos acreditam, pois a universalidade da imagem pode remeter a uma ideia de acessibilidade que não condiz com os reais efeitos (“negativos”) que a mídia produz. Sartori admite, no entanto, que a televisão possa vir a ser um meio de ampliação do conhecer, mas infelizmente este não é o cenário contemporâneo, o que podemos analisar é que há, de fato, uma mudança de hábito, pois utilizamos a tv não como um meio de expansão, mas sim como o único meio de saber, abandonando a leitura, e é este o problema: a televisão não como um acréscimo, mas sim como um meio de substituição, que inverte a relação entre o compreender e ver. Pois, para que haja a compreensão da palavra é necessário ver, pensar e só então entender a mensagem, já na linguagem visual, a imagem é vista e logo entendida, sem que haja o pensar.

Portanto quanto à análise do autor ao meio televisivo este afirma que “a televisão está a produzir uma mutação, uma metamorfose, que interessa a própria natureza do Homo sapiens. A televisão não é apenas um instrumento de comunicação; é também, ao mesmo tempo, paideia (conceito de Wener Jaeger, o termo corresponde a toda formação do homem), um instrumento ‘antropogenético’, gerador de um novo ‘anthropos’, de um novo ser humano”. O fruto desta mutação é a videocriança (um dos conceitos do autor apresentado em Homo Videns) que vivência este cenário de substituição da palavra pela imagem, substituição essa que leva ao empobrecimento do compreender. Desenvolvendo este conceito o autor propõe o Homo videns – aquele à qual “a linguagem conceptual (abstrata) é substituída por uma linguagem perceptiva (concreta) que é infinitamente mais pobre: mas pobre não apenas nas palavras (no número de palavras), mas acima de tudo de riqueza de significado, de capacidade conotativa”.

Assim o autor entende que: a televisão produz imagens e apaga conceitos atrofiando deste modo a nossa capacidade de abstração e com ela nossa capacidade de compreender.

Quando Sartori fala sobre a videocriança, começa a esboçar um cenário que confronta a hegemonia da televisão: a internet. Neste cenário, o autor diz que a TV apresenta imagens à espectadores passivos, “preguiçosos”, enquanto o mundo digital é interativo e usado por agentes ativos que gostam de dialogar e procurar. Nesse âmbito a internet parece não fazer tão mal a uma criança que como videocriança tem a tendência de não responder a estímulos da escrita, mas, é importante considerar que o mundo multimediático é instrumento para vários serviços, entre eles crescimento cultural, e se esse avanço será proporcionado pela internet já que não o é pelas imagens da TV.

A problemática é saber se a internet será usada como instrumento de saber, pois caso não o seja se torna um instrumento ainda pior que a TV, pois apresentará realidades virtuais, que podem fazer com que o utilizador fique preso em mundos imaginários. Quando se trata de lazer, portanto, a TV é menos pior para a videocriança, pois mostra um real que realmente o toca e não um cibermundo de imagens imaginárias.

As potencialidades da internet são infinitas, pois se utilizadas com o proposito de compreender e saber, é um vasto universo para debates e informações de conhecimento, no entanto, como é observado, a maioria dos utilizadores não a usa deste modo, fortalecendo, ou não impedindo a manipulação a qual estão sempre expostos.

Segundo as análises de Sartori, portanto, seja pela TV ou pela internet, quando o Homo Sapiens toma contato com a realidade pela imagem primordialmente, e passa a se organizar por ela, ele perde a sua capacidade de reflexão da própria realidade e é impedido de pensar.

Quando encontra uma palavra, o Homo Sapiens tinha a necessidade de vê-la e pensá-la para entender, no entanto, as imagens que lhe chegam o impedem de pensar, e, quando lhe é tirado o pensar, ele é e pode ser facilmente manipulado por todas as informações, pois não conseguirá refletir para identificar a veracidade delas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A biopolítica do totalitarismo moderno e a sociedade do consumo e do hedonismo de massa


Os homens modernos se encontram em condição de vida nua, onde voltam sua vida biológica e animal somente para a sociedade do consumo, já que passaram por uma despolitização consequente do sistema capitalista e suas engrenagens. Nessa sociedade do controle, Estado é morteado pela produção da vida dos indivíduos, configurando assim a Biopolítica. Entretanto, não são todos os indivíduos que por meio da Biopolítica tem suas vidas potencializadas.

O Estado totalitário molda-se dividindo os indivíduos entre produtores e consumidores, excluindo aqueles que não seguem essa lógica. Os primeiros são contemplados pelos mecanismos da Biopolítica, enquanto os últimos são ameaçados com a pior forma de punição, perdem direito a vida terrena e tornam-se insacrificáveis, tendo suas vidas colocadas em suspensão, o que faz valer a Teoria de Giorgio Agamben sobre o Homo Sacer. Essa figura arcaica passa a não possuir uma capacidade subjetiva, a não elaborar pensamentos e formar ideias.

O conceito Homo Sacer aplicado a Biopolítica seria uma metáfora que deixa claro que o controle exercido na multidão é tão abrangente que dá conta tanto do ir e vir das pessoas quanto da espiritualidade das mesmas, extraindo seu pensar. Nesse modelo social, o único pensamento que é validado é aquele que produz e consome, fazendo com que se desenvolva o Estado de Exceção, pois não são todos que beneficiados com a potencialização de sua vida.

No entanto, na Biopolítica do Totalitarismo Moderno, que perpetua esse pensamento hedônico, a exceção torna-se regra. A "Vida Nua" que se estruturou é responsável pela extração da capacidade política e cultural do homem, que unida a indústria cultural, que se apropria dos elementos que dão sentido ao mundo, e transformando esses elementos de consumo, formulam uma relação de liquidez e efemeridade generalizada.

A vida humana seria regida por duas forças: primeiro, Bios, que se trata da vida política, o aspecto cultural dela, que é particular do homem; e segundo, Zoé, que é a vida biológica do homem, o fato deste viver em comum a todos os seres. Ademais, também seria dividida em: trabalho (homo faber), em que se verifica a capacidade do homem em produzir o artefato humano marcado pela sua durabilidade (por exemplo, as obras de arte e os monumentos); labor (animal laborans), que está ligado ao lado biológico deste, e suas atividades de sobrevivência, como o consumo; e ação (homo politikós). Porém, no capitalismo se verificou, exclusivamente, o triunfo do homo laborans sobre os outros aspectos, e sem a reconstituição do homo faber e do homo politikós, não há vida política, ou seja, o homem perde seu aspecto Zoé.

Resta ao homem perceber que esta situação em que vive é reversível basta uma nova educação que não leve em conta apenas os métodos cartesianos, mas sim a consciência política e de classe.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As diversas formas de dominação humana


         Desde o fim do Absolutismo, era evidente que não seria fácil tirar o poder das mãos daqueles que sempre governaram. Até os dias de hoje, fica claro que as elites, seja através de instituições ou mesmo do Estado, dominam as massas e conduzem os rumos da sociedade.
         A democracia nos moldes que se apresenta nada mais é, se não, um sistema que através da participação popular mantém o povo manso, pois esta participação não é efetiva e de fato quem decide não é o povo.
         Muitas são as medidas que os governos criam para manter o controle sobre estas massas, são mecanismos de dominação, como por exemplo, benefícios cedidos pelo Estado que são vistos como auxílios e que se tratam, entretanto, de uma prova de que o governo não cuida de todos os membros da sociedade e que os salários que recebem não é o suficiente para o seu sustento.
         Essa situação de impotência frente ao Estado, mesmo com a chegada da República, foi estudada por vários pensadores. Assim, termos como ‘sociedade disciplinar’ e ‘sociedade de controle’, usados por Foucault, e ‘Império’ − termo usado por Michael Hardt em seu livro de mesmo título, que conceitua Império como Estados-nação dominantes − fomentam a ideia de dominação das elites.


Foucault – Sociedade Disciplinar & Sociedade do Controle.

         De acordo com Michel Foucault, para que as sociedades contemporâneas existissem foi preciso um processo. O autor defende a premissa de que todas as Instituições, como a Família, a Religião, a Escola, a Moral, entre outras, somadas ao Estado, são responsáveis por criar a individualidade do ser humano, e de manter o poder sobre ele, sendo então consideradas micropoderes. Esse processo se deu a partir de um hábito impresso aos homens e que foi naturalizado ao decorrer dos tempos, os disciplinando, de modo a ocorrer uma servidão voluntária norteada pelo costume, pela pratica, ou seja, por um comportamento reproduzido e não questionado. As Instituições deram origem à Sociedade Disciplinar, na qual os indivíduos são disciplinados no seu tempo e em seu espaço - que já fora reduzido pela modernidade - e também no saber que detinham ou poderiam possuir, sendo vigiados e agindo com um comportamento padronizado continuamente. Junto a esse processo, o coletivo passou a se individualizar, moldando a potencialização do ser. Acontece que o poder disciplinar torna os indivíduos – já autônomos do coletivo – mansos, prescrevendo ainda mais a dominação, e, portanto, o aspecto normativo sobre o natural.
         Um bom exemplo para se entender os mecanismos da Sociedade Disciplinar se encontra em um modelo de presídio proposto por Jeremy Bentham – o Panóptico. Com uma forma circular e torre de vigia central, esse presídio ofereceria uma vigilância perpétua à cada indivíduo. O acuamento, o medo dessa vigilância constante e possíveis repreensões, traria ao indivíduo um comportamento dito adequado.

         A Sociedade Disciplinar surge com a Indústria, e então o homem disciplinar, além de se constituir como manso, também se mostra produtor e consumidor. Dominado. Os micropoderes presentes em nossa organização social, que primeiramente disciplinavam os homens, passaram a controla-los como um resultado do processo civilizatório e racionalizador. A Sociedade Disciplinar torna-se a Sociedade do Controle, e a inserção da Biopolítica é responsável pela produção de uma subjetividade que a mantém, afinada com uma lógica capitalista e, ao mesmo modo, imersa na indústria cultural. O Estado que prolifera a Biopolitica é responsável pela produção da vida, o principal anseio em comum entre todos os indivíduos. Ele usa de políticas que produzem a longevidade. Nesse Estado Republicano Democrático, ou também Sociedade do Controle, que vigia e pune, não há resistência. A população passa a ser parceira da governabilidade e isso também acontece em todas as esferas dos micropoderes, em empresas e no ramo dos negócios, por exemplo, onde os que estão no poder defendem que não existe uma dominação, e sim uma parceria entre todos.
         Contribuindo com o controle social e com o vazio de resistência a isso, a cidadania dos homens passa a ser uma mediação com o Estado. Por meio da Biopolitica, o Estado que assegura a VIDA a todos é o mesmo que os fazem cumprir suas regras, interferindo quando alguma é burlada. A mesma população controlada, que sofre essa interferência, torna-se justiceira naturalmente. O cotidiano dos homens é a forma do controle em si e, ao mesmo tempo, é no cotidiano que se concretiza a “parceria” entre o Governo e o Governado.
         A Sociedade do Controle é o Estado mínimo, ou seja, aquele que cumpre minimamente com seu proposito, sendo possível perceber esse fato com a existência das ONGS, instituições civis regulamentadas que cumprem o que o Estado deveria fazer. A maior estratégia de dominação esta na democracia representativa. O papel da Sociedade do Controle é fazer com que a população não tenha interesse pela participação politica, pois esses espaços de participação freariam o controle. Por exemplo, com a divisão do trabalho nas empresas e indústrias, há o esvaziamento do movimento sindical. Os homens não se reúnem e não são ativos politicamente. Não participam da construção do seu âmbito de trabalho e muito menos na construção de sua sociedade. Nas grandes metrópoles contemporâneas, e, por conseguinte, no mundo do trabalho, não há associação e a politica se esvai na mesma velocidade que as alternativas de potencialização do controle por meio da técnica veementemente.
         Sem a participação política, o Estado apresenta-se como racional e burocrático, governado por uma elite que usa dessa atitude blasé da população para se beneficiar. Com a modernidade, e a lógica do efêmero, a população foi obrigada a se enquadrar em uma dinâmica que criou uma nova relação de sociabilidade, que potencializava ainda mais o controle – o contato, relação presencial, perdeu o prestígio, sendo trocada por uma relação virtual, mediada pelas tecnologias. Levando isso em conta, as relações fragmentadas e descartáveis que esse mundo controlador e dominante nos proporciona são iniciadas no controle absoluto e compressão espaço-temporal da politica.


Marx - Sistema capitalista e alienação humana

         Marx encontra na sociedade industrial a pior forma de exploração e dominação humana. Passando da chamada troca simples para o comércio – então, com o inicio do acúmulo de capital – uma nova forma de relação interpessoal surgiu. Os trabalhadores começaram a se relacionar com os artesãos – burgueses da época – vendendo sua força de trabalho para empregá-las nas fábricas. Para melhor aproveitamento do tempo, instituiu-se uma divisão do trabalho, em que cada homem ficava responsável por uma parte específica da produção, sem jamais conhecer o todo do processo.
         Com essa configuração das fábricas, os trabalhadores não se reconheciam como donos do produto final que produziam. Eles sequer tinham noção de sua real força de trabalho, chegando a vende-la por um preço muito abaixo do que o justo. Em poucas horas de trabalho o homem já conseguia produzir o equivalente ao valor de seu salário, passando o resto do dia produzindo em benefício do burguês. Para Marx, essa alienação criada pelo sistema capitalista, que propiciava uma exploração, era um mecanismo de dominação.
         Marx acreditava que, um dia, o capitalismo iria acabar. Falando sobre um operariado que tinha uma memória recente de uma vida sem exploração, em que era possível uma sobrevivência sem o lucro, ele apostava no surgimento de um sentimento de revolta, que desenvolveria uma consciência de classe em todos os trabalhadores. Para ele, essa era a forma mais crível da quebra do sistema: uma revolução proletária.
         Mas, conforme essas revoltas proletárias aconteciam, Marx percebeu que havia alguma força que as impedia de suceder em seu propósito: o Estado usava sua força e poder para fazer as revoluções fracassarem, como forma de garantir que a propriedade privada permanecesse nas mãos dos poderosos. E com esse mecanismo de controle que o Estado exerce, Marx passa a desacreditar em uma revolta deste tipo, e passa a crer que o sistema Capitalista tenderá a sua auto-destruição, ou seja, seu mecanismo e matemática injusto levarão a uma revolta por conta da miséria.
         No entanto, essa visão de Marx também não aconteceu. Os trabalhadores continuavam vivendo na miséria e tendo sua força de trabalho explorada, mas eles não tinham consciência da injustiça desse mecanismo, pois sua docilidade era garantida por outro mecanismo de dominação da sociedade: a Indústria Cultural.
         Conforme os estudiosos de Frankfurt irão aprofundar, essa Indústria Cultural ocupava, e ocupa ainda nos dias de hoje, o tempo de ócio do ser humano, de modo que ao invés de pensar sobre a realidade e seus “problemas”, a classe trabalhadora é bombardeada com ilusões que a mantém dócil, facilitando seu controle para que não seja criada uma possibilidade de revolta.
         Marx acredita que o Capitalismo é necessário para produzir riquezas que sejam divididas igualmente entre os indivíduos, e se o sistema ainda não ruiu é porque, mais uma vez o Estado intervém com dinheiro toda vez que empresas ameaçam falir. Mas esse método logo não mais acontecerá, pois o custo de manutenção das cidades só aumenta, e o estado não tem mais o dinheiro necessário para manter as empresas e o capitalismo.

A Indústria Cultural segundo a Escola de Frankfurt

         Para os pensadores da Escola de Frankfurt, outra forma de controle presente em nossa sociedade, se concentra no fenômeno da Indústria Cultural. Em texto publicado em 1947 “A dialética do Iluminismo”, Adorno e Horkheimer, definiram a Indústria Cultural, como se tratando de um sistema econômico e político no qual os meios de comunicação, produções artísticas – filmes, livros, obras de arte – têm função de mercadoria e são também estratégia de controle social, perdendo seu sentido original, de serem uma forma de comunicação com os homens capazes de gerar reflexão.
         Sobre isso Adorno tem uma visão extremamente fatalista, para ele a partir do momento no qual a produção cultural passa a fazer parte de um sistema e as fronteiras entre “arte” e entretenimento se diluem isso ocasiona a alienação e o afastamento do indivíduo no que diz respeito ao mundo social que o cerca.
         Isso acontece, porque os meios de comunicação de massa são de propriedade de um pequeno grupo, o qual possuiu interesses individuais e mercantis. Para continuar lucrando com seus produtos, essas empresas articulam seus interesses com os interesses do governo e ao invés de contribuírem para construir cidadãos críticos, formatam seu conteúdo para auxiliar no controle e na dominação de seu público.
         Nesse sentido na posse do poder econômico, a tecnologia e a ciência, seriam um meio de impedir as pessoas de tomarem consciência de suas condições de desigualdade. Um trabalhador regular ao chegar em sua casa, não encontrará nas programações das emissoras um retrato fiel de sua realidade de vida, mas sim algo que o isole por alguns instantes de sua realidade, essa força do entretenimento gera certa “cegueira” e consumidores desse produto cada vez mais passivos.
         Além disso, essa Indústria da distração se apresenta como uma forma de dominação por ocupar todo tempo livre dos indivíduos com o lazer, ao invés de se dedicar à reflexão. O público, afastado da realidade pela redução desta pelos caracteres dos impressos e nos discursos simplistas dos telejornais, aceita sua própria dominação, já que não há como desenvolver um pensamento crítico, muito menos, uma consciência de classe.
         Por fim, o pensamento cartesiano, base do Capitalismo, também é condenado pela Escola de Frankfurt. Na base da Teoria Tradicional, de Descartes, busca-se causa e efeito em todas as explicações, ademais só é considerado verdadeiro aquilo que é provado racional ou empiricamente. Essa teoria matemática, a maneira de pensar e a falta de razão crítica contribuem na alienação da população, ao delimitar sua reflexão e, pela consequente perda de consciência.



terça-feira, 19 de junho de 2012

O Poder e Foucault



         Baseado nos pensamentos de Nietzsche, Michel Foucault busca a genealogia das instituições, ou o poder em sua origem. Ele acredita que dentro de cada instituição há o início do exercício de poder, que são esses micro-poderes, que se relacionam com o poder do Estado para manter a mansidão e a ordem dos indivíduos. Esses micro-poderes constituem a microfísica, que se mantém através da disciplina.  Para Foucault é óbvio que esses micro-poderes podem coexistir com o poder do Estado, pois eles são independentes.

         Os micro-poderes constituem a microfísica, que se faz valer principalmente pela disciplina. Esse poder disciplinar que as instituições detêm têm a potencialidade de fabricar e moldar o indivíduo, por localizá-lo em um tempo e espaço determinado, e pelo exercício da vigilância, que através da observação, resulta em um saber.

         Tal disciplina consegue dominar o indivíduo de várias formas. Sua base leva ao controle individual. Um bom exemplo disso seria o modelo de presídio proposto por Jeremy Bentham, o chamado Panóptico, que teria uma forma circular e uma torre central, responsável por garantir uma vigilância perpétua. A exemplo do poder disciplinar, esse Panóptico introjeta um comportamento adequado.

         Um caso contemporâneo que se assemelha à forma de "acuamento" da prisão é o famoso posto policial brasileiro, que, no lugar de um policial, era colocado um espantalho para fazer a vigilância. Apesar do conhecimento popular de que era um boneco que ali estava, o medo e o hábito levavam os motoristas a reduzir a velocidade.

         A vigilância é uma forma de controle dos indivíduos, uma vez que o medo os leva a ter disciplina e a comportar-se de um modo determinado.

         Esses exemplos mostram como funciona a sociedade de controle, em que a população heterogênea, os indivíduos - ao contrário da sociedade disciplinar, em que a massa que é controlada - são controlados pelas instituições, cujos interesses convergem com os do Estado.

         A atuação desses poderes não pode ser apreendida senão onde sua intenção está investida, ou seja, em meio as práticas efetivamente reais nas quais há relação direta com seu plano de aplicação.

         A genealogia do sistema de Foucault leva à conclusão de que a instauração da sociedade moderna supôs uma transformação nos instrumentos canalizadores do poder, pois o dominado, por essas vias, julga como natural ser subjugado, não há uma consciência viva sobre tal força. No entanto, é conhecido que todo poder é gerador de resistência, porém não se tem por objetivo a repressão, já que esta é desencadeadora de conflitos, não do adestramento.

         Entretanto, quando um grupo social desenvolve a capacidade de manipular tais mecanismos que regulam determinada manifestação, constrói uma estrutura que se aplica aos potenciais dominados.

          O discurso apresentado como natural, como podemos perceber no de um sistema econômico de uma nação, tomando aqui como exemplo o capitalismo, compartilham de um mesmo fim. Assim o cidadão entra no jogo e respeita as suas regras. Dentro de uma sociedade de consumo, como é caracterizado Brasil, o trabalhador é direcionado aos mecanismos necessários para a obtenção de bens, ou seja, o trabalho, que gera o capital indispensável ao consumo. Essa atitude é natural, e não se questiona mais os motivos para a concretização do consumo e a venda do trabalho, muitas vezes por valor muito inferior ao que ele realmente vale.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Marx e o sistema de dominação


Marx considera que a desigualdade material tem seu embrião com o aparecimento da propriedade privada, que proporcionou o acumulo de bens. Esse pensamento se iguala ao de Rousseau, dizendo que,  com essa sociedade uma vez estabelecida, há a necessidade da organização política para garantir seu funcionamento.


Aqueles que não pertenciam a àgora da cidade eram obrigados a comercializar para abastecer a civilização e garantir sua sobrevivência (troca simples). É no mometo em que o comércio ocupa o centro organzacional da cidade que a acumulação de capital é instaurada.


O lucro é potencializado quando a cidade se torna industrial, com produção em alta escala, e, para Marx, é nesse estágio que o capitalismo de consolida como a realidade do comércio.


Nesse sentido, a ferramenta da troca simples é substituida pela ideia de equivalente geral, que estabelecia um objeto de valor dentro de uma comunidade como um padrão de troca.


Não foi só a economia que se modificou. O modo de relação social entre servos, artesãos e trabalhadores também foi alterado, construindo uma nova hierarquia. Os trabalhadores começavam a se relacionar com os artesãos  (burgueses), vendendo sua força para trabalhar nas fábricas. Para o melhor funcionamento dessa força, os propietários pensaram em uma divisão do trabalho, atribuindo atividades especificas para cada individuo.


Assim se formou a indústria, e o trabalhador, não tendo conhecimento da potencialidade de sua força, deixava-se (ou deixa-se) ser explorado (em uma completa alienação). Esse é o mecanismo de dominação. O indivíduo, privado de ter os meios de produção, acaba vendendo sua mão-se-obra por valor muito inferior ao que realmente vale; em poucas horas consegue trabalhar o equivalente a seu salário, passando as outras horas produzindo em benefício de seu senhor.


Segundo Marx, esse capitalismo que explora o homem poderia ter fim de três maneiras distintas. Uma diz que o regime deixaria de existir matematicamente, pela competição de mercado; já outra seria através da revolução proletária, em que o proletariado pegaria em armas e a terceira, por sua vez, trata-se da consciência de classe, em que tal classe reconheceria a forma que o sistema funciona, assim como a sua situação, a ponto de por fim a elas. Porém, como se vê hoje, o fim do capitalismo nunca ocorreu, pois ele, através de meios, conseguiu se manter como regime hegemônico, valendo-se sempre intervenção estatal econômica em momentos de crise. Além disso, o proletariado segue alienado, já que o capitalismo cria mecanismos, como os programas de assistências, que fazem tal classe aceitar a vida razoável, e muitas vezes medíocre, que lhe impuseram.


O conceito de capital variável se trata do investimento na força de trabalho, já o conceito de capital constante é o investimento em meios de produção, sendo que diferente do primeiro, este último não oscila. Marx afirmava que ao diminuir o capital variado (os salários) e o investimento no capital constante seguisse, a partir de tal situação o próprio sistema capitalista ruiria, pois dificultaria o lucro.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Os Contratualistas

              As teorias contratualistas podem ser dividias em três partes, cada qual de acordo com o pensamento dos seus três maiores representantes: Thomas Hobbes; John Locke e Rousseau. Os Contratualistas veem a sociedade como algo não natural, fruto de um contrato social. No entanto, o modo e como são abordados os conceitos desse pacto, e que leva a essa "solução", diverge de autor para autor.
         Para Hobbes, o homem fora de uma comunidade encontra-se em estado de natureza, onde prevalece a liberdade e interesses independentes. Porém no contexto político a liberdade pode causar um clima de constante tensão. Homens iguais com direitos iguais se distanciam de acordos pontuais capazes de criar a noção de bem comuns. Deste modo os indivíduos convivem em meio à desconfiança e ao medo, visto que o homem, ao conhecer apenas a si mesmo e se colocando alheio aos interesses do outro, vê nesse uma ameaça. O suspense envolto nessa relação é capaz de desencadear a guerra generalizada.  É tentando impedir que a guerra continue que os homens entram em consenso e aceitam ceder parte de sua liberdade através do  contrato de submissão, que reduz os interesses individuais a um interesse único. É o modo que viabiliza o Estado, e assim nasce o soberano, que tem como único dever assegurar a vida de seus súditos.
         A princípio, Locke concorda com a situação que leva a um consenso sobre a necessidade do contrato social. O homem tende a se sobrepor a seus semelhantes uma vez que as experiências e adquição de conhecimento, pode tender a desigualdades (teoria da tábua rasa). O contrato veio para tentar suprimir essa possível desigualdade, e, também, como legitimação do trabalho.
         Como pensador burguês, Locke defende o direito de propriedade, bem maior do homem, ao contrário de Hobbes, que por viver em um período de ascensão da burguesia é contra a propriedade, rendendo-lhe a fama de pensador maldito. Essa denominação surge não isoladamente por sua referência agressiva de que todos os homens são em natureza bélicos e predispostos aos conflitos, e tampouco da sua negativa ao poder absoluto do estado e suas divergências com a igreja, mas sim em sua tese de que a propriedade privada não é um bem inato ao homem e não deve ser mais importante do que a igualdade entre os sujeitos de uma mesma comunidade. Esse conceito nega a propriedade privada e ao mesmo tempo se opõe ao interesse da burguesia, a qual durante toda a história lutará para afirmar a propriedade como direito fundamental ao homem e o qual deve ser garantido pelo estado.
Enquanto que para chegar ao contrato social é necessário um consenso, quando é estabelecido o estado civil a escolha de governo é regida pelo princípio da maioria.
            Rousseau, por sua vez, é o que mais diverge de seus colegas iluministas, pois acredita ser possível a sobrevivência em uma sociedade sem contrato social. Há a possibilidade da existência social coletiva com a cooperação de todos e sem propriedade, entretanto, na natureza humana, o homem casa com a perfectibilidade, que acaba mais uma vez levando à competição entre os homens, o que também resultaria em uma guerra generalizada. Se em alguns pontos Hobbes diverge de Rousseau, podemos dizer que no que diz respeito à aceitação de suas idéias em meio a classe burguesa, os dois se igualam. Rousseau mais fortemente do que Hobbes é considerado pela a elite e também pelo governo um pensador maldito. O filosofo é intulado um radical, ja que para ele a igualdade é um bem maior e se sobrepõe ao direito a propriedade privada, a qual ele julga ser o motivo de todas as guerras e desigualdades de classe;  ao contrário de Hobbes, ele julga como causa principal das guerras  o capricho humano - vindo da perfectibilidade - e a própria propriedade. Para Rousseau e não é possível a representação política, pois para isso cada individuo se privaria do direito a tomada de decisões, destruindo qualquer possibilidade de liberdade individual, já anulada pelo conceito de liberdade civil.
          O pacto social é, portanto, o fim da liberdade natural. Esta, por sua vez, gera a idéia de propriedade e degenera a sociedade, pois  o domínio – sem sequer justificativa lógica – de  uma terra que deveria ser de todos faz  crescer as diferenças e injustiças. Construindo contratos capazes de reger toda a existência social em função de alguns poucos, não se atinge a totalidade de seus integrantes.